terça-feira, 24 de maio de 2011

Um aperto no peito, daqueles de tristeza forte.


Hoje quero dividir com vocês um pouco das histórias que viví com um senhor chamado Horácio Cogo, o meu avô.
Tenho muitas lembranças bacanas do meu avô, dentre elas a imagem dele com uma máquina fotográfica a me esperar no portão do colégio no ultimo dia de aula do ano ... íamos para a casa dele e voltávamos só na véspera do reinicio do ano letivo. Minha avó preparava lanchinhos e o meu avô ia dirigindo seu Del Rei esverdeado a 80km/h, enquanto ambos tentavam nos distrair para tornar a viagem menos penosa.
As férias eram inesquecíveis, chegando a Birigui, cidade onde viviam, íamos ao mercado e o vovô dizia: “Podem pegar tudo o que quiserem”  mas como hesitávamos ele colocava no carrinho sucrilhos, danone de todos tipos, chocolates e bolachas, coisas que em casa eram meio raras.
Numa das “manhãs festivas” íamos para a banca e lá ele pegava revistinhas cadernos e lápis coloridos para que fizéssemos desenhos e a tarde, enquanto ele assistia o Jornal Hoje sentado no sofá, minha irmã cortava e lixava as unhas das mãos e dos pés e eu penteava e fingia cortar os cabelos lisos e grisalhos do avô mais querido. Íamos ao zoológico, ao clube, chupávamos sorvete, comíamos pizza, e nos dias mais divertidos púnhamos abaixo o guarda-roupa dele para montar uma lojinha ... era só colocar preço em tudo e espalhar em sessões pelo chão. Era o máximo!!!
Grande parte das minhas memórias de infância e adolescência incluem o Sr. Horácio, segundo minha mãe ele foi um pai muito severo, mas o avô era o mais doce e atencioso possível. Lembro que quando eu tinha dificuldades nas aulas de História do Brasil, ligava para ele e ele me explicava tudo pelo telefone, uma vez me contou que assistiu o comício do Jânio Quadros e chegou a cantar a musiquinha pelo telefone: “Varre, varre vassourinha...”. Lembro da voz forte na hora de dar uma bronca e do riso discreto quando o entregávamos um desenho ou uma cartinha.
Hoje, as conversas são bem mais curtas, a voz já não é tão forte e por causa do Parkinson a dicção já não é a mesma. A comida é batida e muitas vezes é preciso alimentá-lo por sonda, os passeios são raros e só para convencê-lo e coloca-lo no carro se vão horas e junto dele vão muitos remédios, fraldas, travesseiro, troca de roupa e o andador (amigo inseparável).
Além do Mal de Parkinson, já passou por uma diverticulite e um câncer na próstata, mas hoje recebo a notícia de que mais uma vez ele está internado ... o coração já não é mais o mesmo, a pneumonia já o atinge pela segunda ou terceira vez e o rim não está querendo trabalhar direito. Mas o pior de tudo é que ele está TOTALMENTE lúcido, ele tem plena noção de tudo que está acontecendo e se sente culpado pelo “trabalho” que tem dado para todos.
Uma tristeza enorme toma conta de mim, o que devo esperar? O que devo pedir a Deus em minhas orações? Devo ser egoísta ao ponto de pedir que não o tire de nós ou devo pedir para que o leve logo e o tire desse sofrimento?
Na verdade peço apenas que faça o melhor para ele, mesmo que isso não seja o melhor para mim.
Te amo vô e posso dizer com toda certeza que você é, e sempre será, o melhor avô do mundo!!!


Aí está meu vozinho já meio doente, com seu andador. Na foto estão minha avó (Eude), meu tio (Junior) meu avô (Horácio) e minha mãe (Gisele).


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